[img align=left]https://www.jaraguadosul.sc.leg.br/uploads/thumbs/c8d777cd-b419-d727.jpg[/img]
Como já tinha acontecido no depoimento dado à Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Schützenfest, o pronunciamento do ex-presidente da Comissão Central Organizadora (CCO) da festa e ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Ronaldo Raulino, foi um dos mais contundentes e polêmicos.
Ele responsabilizou a prefeita Cecília Konell pela organização da festa, dizendo que a mesma queria reerguer o evento para fazer política junto com o marido, e também em determinado momento sugeriu que a terceirizada Fábrica do Show, dirigida por Genilson Medeiros e que atuou com coordenação do contador José Gentil Nichelle, seria responsável pelo prejuízo, já que até hoje não apresentou a prestação de contas.
A fala do ex-secretário em relação à Fábrica do Show mostra o quanto o relacionamento com a empresa terceirizada azedou nos últimos meses. Em 27 de novembro do ano passado, quando o secretário compareceu pela primeira vez na Câmara ao lado de José Gentil e ainda demonstrava confiança na empresa, que se comprometia em saldar todas as dívidas com os credores e fechar a prestação de contas, mas nunca o fez.
Ao ser questionado sobre qual seria a participação da prefeita Cecília Konell na organização da 21ª Schützenfest, Ronaldo Raulino respondeu que Cecília teve participação direta, pois designou os membros da Comissão Central Organizadora (CCO). Segundo ele, que foi presidente da CCO a época, a prefeita e ele seriam os responsáveis pela festa. “Por ela ter designado os membros da CCO e eu ser o presidente. Fomos cinco secretários e mais 13 funcionários. Tenho responsabilidades sob os atos que pratiquei e assim temos participação total”, enfatizou.
Raulino adiantou que o ex-secretário de Administração e Finanças, Ivo Konell e a prefeita Cecília Konell forçaram a entrada das sociedades de tiro na 21ª Schützenfest, pois a realização da festa seria uma promessa de campanha. “As sociedades de tiro não queriam a festa, pois elas já conheciam os problemas nas administrações passadas”, revelou.
Ronaldo disse que 21ª Schützenfest foi um sucesso de crítica e público. “Quem disse isso foi a crítica estadual”, justificou o ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte, ao comentar que o sucesso da festa seria inquestionável e que as denúncias sobre as irregularidades na festa não poderiam ser atreladas nesse quesito. E lembrou ainda que a própria prefeita assumiu a autoria da festa ao percorrer as mesas e salões e perguntar para o público presente se não estava boa a festa que ela fez.
[b]LEIA ALGUNS TRECHOS DO DEPOIMENTO DE RAULINO[/b]
– Cerca de 60% das pessoas diretamente ligadas a festa foram indicadas por ele, mas algumas foram indicadas pela Associação das Sociedades de Caça e Tiro do Vale do Itapocu (ACSTIV). O resto havia sido indicado por Ivo e Cecília Konell. “A maioria era servidores públicos. Fizemos isso para economizar. Tínhamos 100 dias para fazer uma festa e outros 100 dias para fazer um parque de eventos”, ressaltou.
– Questionado sobre o contrato entre a Fábrica do Show e a ACSTIV, Raulino disse que havia sido apresentado a Marcelo “Brother”, do Instituto Anita Garibaldi, na época em que este organizava um evento de MotoCross na Arena Jaraguá. Explicou que Marcelo propôs a terceirização da festa e que apresentou a proposta para Cecília e Ivo Konell.
– Apesar da proposta, Raulino não gostou de acontecimentos na organização do evento de “Brother”, isso fez com que repensasse a sua posição. Então, Marcelo apresentou a Fábrica do Show, que apresentou vantagens. “Eles tinham as bandas, isso foi o que facilitou tudo”, frisou Ronaldo, que lamentou o fato da festa não ter recebido os recursos do governo federal e de um patrocínio da Ambev (empresa que detém a marca do chope vendido na festa).
– O ex-presidente da CCO explicou que não era necessária a realização de uma licitação para a terceirização da festa, pois a Schützenfest é organizada pelas sociedades de tiro. “Como era um contrato entre as sociedades de tiro e a Fábrica do Show, não precisava. A licitação era necessária quanto ao dinheiro repassado pela Prefeitura”, disse.
– Raulino disse que a instalação da Fábrica de Show no parque de eventos foi uma medida econômica. Segundo ele, havia local próprio para isso e o parque tinha área sobrando, o que atendia a essa necessidade. “Não vejo nada de mau, afinal estavam fazendo uma festa para o município”, explicou.
– Raulino ressaltou que participou de oito a dez reuniões com todos os membros da CCO. Inclusive com os que estão dizendo que não foram (uma referência ao presidente da Fundação Cultural, Jorge Luiz de Souza). Essas pessoas, segundo Ronaldo Raulino, foram a todas as reuniões. “A gente tem que ser homem a vida toda e não sé em uns momentos”.
– Sobre a assinatura do Ecad, Raulino disse que deu o seu aval porque no segundo dia da festa, o Ecad bateu e queria cobrar dívida de R$ 80 mil, mas, depois de uma negociação, foi baixada para R$ 30 mil e parcelada em três vezes de R$ 10 mil. O ex-presidente da CCO contou que Ivo Konell mandou não pagar a taxa. Raulino disse que alertou que isso ia parar no cartório, mas o Marcelo Muller, então diretor de Turismo da Prefeitura, foi a Florianópolis dizendo que era advogado e renegociou a dívida.
– Raulino explicou que inicialmente os R$ 150 mil reais seriam usados no pagamento do show da dupla Fernando e Sorocaba, bandas alemãs e parte do show do Zé Ramalho. “Eu disse que da forma que estava não podia. Levei o presidente da Fundação Cultural para o departamento jurídico da Prefeitura e disseram como deveriam fazer (sic), orientados foram e foram mal orientados pelo Jurídico da Prefeitura”, relatou. Depois, segundo ele, o show da dupla custou R$ 90 mil e o restante ficou para o pagamento da banda alemã. Para o pagamento das passagens da Alemanha ao Brasil, foi emitida uma nota fiscal de empenho.
– Raulino voltou a contradizer o depoimento do presidente da Fundação Cultural e explicou que Jorge participou de todas as reuniões da CCO. “Ele colocou uma empresa para explorar a festa e até mesmo empresa pessoal dele, que ficava na entrada do parque. Trouxe a bolha de água, duas ou três bandas, o Michael Jackson cover, cover da Lady Katy, e não venha dizer que não participou”.
– Ivo Konell deu a ordem de liberação do repasse de R$ 150 mil. “Eu disse ao secretário de Administração que não tinha um real para fazer a festa e que precisava adiantar [o dinheiro]. Ivo chamou o Jorge e mandou fazer pela Fundação Cultural, frisou Ronaldo, que comentou que Konell foi alertado por ele de que “no setor público as coisas não eram feitas daquela maneira”.
– O repasse via Fundação Cultural foi a saída de Ivo Konell para conseguir rapidamente o dinheiro para o pagamento dos shows, pois outra forma demandaria mais tempo. “É o jeito dele de administrar, se tem que passar por cima ou não, ele faz”, disparou.
– A documentação referente a festa não estaria em dia. “Falta a assinatura de mais gente”, apontou. Ele citou que no setor público não se pode tudo e que o dinheiro pode até ter um destino legítimo, mas o encaminhamento foi irregular.
– Raulino afirmou que nunca teve atritos com o presidente da Fundação Cultura, mas que o mesmo ficou enciumado porque a prefeita teria dado a presidência para ele. Segundo Ronaldo, Jorge não assinou os documentos porque não foi consultado sobre as decisões, pois Konell havia dado todas as diretrizes. Diz que tem um quadro em casa onde Jorge fala sobre o orgulho de serem amigos.
– A prefeita Cecília tinha conhecimento de tudo o que se passava e sabia sobre os funcionários que trabalhavam na festa. A Schützenfest é uma atração turística e isso justificaria o trabalho dos funcionários públicos na festa. “Meus funcionários trabalharam diuturnamente na festa, durante cem dias, tudo demanda tempo e gente, eles sabiam disso”, ressaltou. “Como faço uma festa daquela envergadura, a prefeita e o secretário passam todo o dia e ninguém vê?”
– Raulino disse que nunca tomou uma atitude que não levasse ao conhecimento de Ivo e Cecília Konell. “O show do Moacir Franco ele [Ivo] fez questão de fazer para o show dos idosos. Cinco dias de entrada franca era um suicídio”, atacou o ex-presidente da CCO, ao declarar que a Schützenfest foi usada para fazer política. “Mesmo com isso, a festa deu lucro. Só que o lucro sumiu. A Promotoria Pública têm de investigar”, sugeriu.
– Raulino disse que a prefeita exigiu as festas do Dia das Crianças e dos Idosos. “Houve comida e bebida para crianças e idosos. Se achar uma assinatura minha, que me comprometa, vou embora de Jaraguá do Sul”, protestou.
– Para Raulino, a festa aconteceu somente por ser uma promessa de campanha e a mesma estaria no plano de governo da prefeita. “Tínhamos que cumprir o que foi prometido no palanque. Foi imposição deles, como agora vai ser. Ainda mais sendo um ano político”, destacou.
– Comentou que o então senador Raimundo Colombo teria prometido um repasse de R$ 100 mil e que outros R$ 400 mil viriam do governo do Estado. “A empresa [Fábrica do Show] deu um cano em nós (sic), roubou o povo de Jaraguá do Sul. Até hoje eles não prestaram contas porque não tem comprovantes para dar cabo da receita”, relatou.