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Câmara comemora emancipação do município com evento histórico

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Na defesa da soberania popular e dos princípios democráticos, a Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul promoveu, na noite de ontem, 7, a devolução simbólica dos mandatos do prefeito e vereadores que compuseram a primeira legislatura no município, em 1936. O ato ocorreu durante a sessão solene comemorativa à emancipação político-administrativa do município, no Pequeno Teatro da Scar (Sociedade Cultura Artística).

As autoridades que compuseram a primeira legislatura e governo foram eleitos pelo voto popular, e no ano seguinte tiveram seus direitos políticos suspensos pela ditadura imposta pelo governo do então presidente Getúlio Vargas. Eram eles: o prefeito Leopoldo Augusto Gerent, e os vereadores eleitos Emmanuel Ehlers, Waldemar Grubba, Ricardo Grunwaldt, Emílio da Silva, Carlos Guenther Júnior, Francisco Mees e Arthur Müller.

Da homenagem participaram representantes dos familiares das autoridades da época, que receberam em nome deles o diploma do mandato, uma placa e flores. Como neto do senhor Emílio da Silva, Emílio da Silva Neto proferiu discurso representando os homenageados, deixando um recado à classe política. “O político, quando eleito, tem de ser melhor do que o povo que ele representa. Democracia não é só liberdade de votar ou ser votado. É respeitar os interesses do coletivo, e não de pequenos grupos ou interesses pessoais. A política limpa é linda, é missionária. Que nós reflitamos se não estamos piores do que no passado”, discursou.

O vereador Jair Pedri, ao representar o Poder Legislativo municipal, afirmou se tratar de uma importante e necessária correção na história política da cidade. “Digo isto porque tenho a certeza de que estes senhores, hoje homenageados, tinham muitos planos para o desenvolvimento do nosso município recém emancipado e muito poderiam ter feito, mas pouco mais de um ano após a eleição, seus anseios e os de toda comunidade local foram ceifados pelo golpe de Getúlio Vargas”, declarou.

Autora da lei que instituiu a sessão solene, a vereadora Natália Petry destacou a intenção de manter viva a história do município e uma expressão de gratidão e reconhecimento. “Passamos por diversos modelos de gestão pública como a Era Vargas e os anos de chumbo da ditadura militar. Com isso aprendemos muito e é justamente esse amadurecimento que nos traz aqui para corrigirmos um abuso cometido por um governo totalitário que cassou os direitos políticos de personagens que fizeram parte da nossa história e que devem ocupar o lugar que, por direito, sempre foi deles”, discursou.

O prefeito Dieter Janssen, o secretário de Estado da Segurança Pública, César Grubba, e o deputado estadual Vicente Caropreso também se pronunciaram e destacaram a importância histórica do evento. O chefe do Museu Emílio da Silva, Ademir Pfiffer, destacou a mesa redonda que discutiu o integralismo, promovidas nos anos de 2014 e 2015, que permitiram todo o levantamento histórico que culminou com a realização do evento.

Alunos do curso de Direito e o professor Jeison Giovani Heiler, da disciplina da Antropolia Jurídica, prestigiaram a solenidade, abrilhantada pela participação da Escola de Música Jazz Band Elite, que completa este ano 25 anos de fundação. A escola presta homenagem a banda, iniciada em 1901, e que tem entre seus fundadores Francisco Mees, um dos homenageados da noite.

 

Perfil dos homenageados

 

Prefeito Leopoldo Augusto Gerent

Representante: Osmar Gerent (neto)

Natural de São Pedro de Alcântara, nascido em 15 de novembro de 1883, filho de Pedro João Gerent e Anna Schmidt. Foi casado com Maria Thiesen, com quem teve dois filhos, e de sua segunda união, com Leopoldina Longen, teve 15 filhos. Em 1917, mudou-se para Jaraguá e passou a residir na Tifa Martins. Dedicou-se à cultura de aguardente, açúcar e na fabricação de farinha de mandioca. Dirigiu banda de música, pois tocava clarineta. Foi eleito prefeito pelo Partido Integralista em 1º de março de 1936, pela resolução 3139. Durante o seu governo, reformou a ponte metálica e a cobriu com folhas de zinco, além de realizar o censo demográfico do município. Faleceu em 24 de fevereiro de 1949, em Jaraguá do Sul.

 

Vereadores

Emílio da Silva

Representante: Emílio da Silva Neto

Nasceu em 1º de novembro de 1900, no distrito de Jaraguá, filho de Maria Umbelina da Silva. Em 10 de junho de 1922, inicia a carreira de professor do curso primário na Colônia Schröderstrasse, no distrito de Bananal, (atual Guaramirim). A escola, que atendia alunos de baixa renda, foi construída em madeira por ele e um grupo de voluntários e recebeu o nome de “Hercílio Pedro da Luz”. Em 14 de junho de 1924, casou-se com Madalena Salomon e teve com ela teve sete filhos.

Nos anos 30, passou a residir em Jaraguá, na entrada do Vieiras, onde mantinha um pequeno comércio, cujo ponto construiu a sua rede de relações políticas ligadas ao integralismo. Foi oficial de Justiça, vereador e, em 1937, na gestão do prefeito José Bauer, foi nomeado para o cargo de fiscal de Viação e Obras Públicas. Chegou a ser preso junto com correligionários em meio ao embate político da ditadura da Era Vargas.

Em junho de 1940, foi nomeado para o cargo de Agente de Estatística da Prefeitura de Jaraguá. Já em 1951, o escriturário foi nomeado por Arthur Muller como inspetor escolar municipal. Em 1976, lançou o livro Jaraguá do Sul – Um capítulo na povoação do Vale do Itapocu. A obra literária revelava os testemunhos da história da cidade.

Faleceu em 3 de julho de 1999, aos 98 anos. E por ser um cidadão identificado com a história dos municípios de Jaraguá do Sul e Schroeder, os respectivos prefeitos Irineu Pasold e Oswaldo Jurck, emprestaram o nome do educador para designar de patrono a instituição museológica e educacional das respectivas cidades.

 

Arthur Müller

Representante: Margot Adélia Grubba Lehmann (neta)

 

Nasceu em Blumenau em 6 de maio de 1895, filho de João Jacob e Dorothea Francisca Almeida. Trabalhou na Prefeitura de Blumenau. Foi nomeado Escrivão de Paz do Distrito de Hammonia em 21 de novembro de 1914. Em 1918 passou a residir em Jaraguá e a trabalhar na firma de Leopoldo Janssen. Logo em seguida é nomeado Escrevente Juramentado do Cartório de Notas e Ofício de Registro Civil. Em 1919 torna-se gerente do Jornal Correio do Povo, assumindo a propriedade da empresa em 1923. Em 14 de abril de 1924 é designado Intendente do Distrito de Jaraguá. Em 1925 é nomeado escrivão de paz e oficial interino do Registro Civil. Em 1926 é novamente Intendente Distrital e, em março de 1936, é eleito vereador. Em 1937 é nomeado oficial interino do Registro Civil, sendo efetivado em novembro. Foi presidente da Sociedade de Atiradores Jaraguá. De 1947 a 1950, assume como Deputado Estadual. De 1951 a 1956 exerce o cargo de prefeito, eleito em 1950.

Casou com Adélia Doubrawa em 12 de março de 1922 e tiveram os filhos: Aracy, Áurea, Amantina e Artur Oscar. Faleceu em 27 de abril 1957. Em seu governo são criadas as escolas de Ribeirão Cavalo, Vieiras e Boa Vista. Inicia-se o calçamento das principais ruas da cidade e é inaugurada a nova sede da Delegacia de Polícia.

 

 

Waldemar Grubba

Representante: César Augusto Grubba (filho)

 

Nascido em 1901, casou-se com Edelmira Moritz em12 de dezembro de 1953, e tiveram como filhos: Luiz Antonio e César Augusto. Sucessor de Bernardo Grubba na firma Bernardo Grubba S/A Indústria e Comércio, também foi Intendente Distrital nomeado em 16 de setembro de 1932, sendo exonerado em março de 1933. Foi Prefeito em várias ocasiões: nomeado pelo Interventor Aristiliano Ramos pela resolução nº 38, de 18 de março de 1935, até 21 de abril de 1936. Foi eleito Prefeito de 12 de dezembro 1947 a 28 de dezembro de 1950 e de 31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961.

Além de vereador da primeira legislatura, foi deputado estadual entre 1951 e 1954. Exerceu a função de Encarregado do Expediente da Chefia Escolar de Jaraguá, conforme portaria 232, de 14 de setembro de 1932. Foi, ainda, inspetor escolar e delegado de polícia.

 

Emmanuel Ehlers

Representante: José Alberto Barbosa (ex-promotor de Justiça)

 

Oriunda do pequeno lugarejo de Kihus, Schleswig Holstein, na Alemanha, a família veio ao Brasil cumprir a missão de difusão da Igreja Adventista do 7º Dia. Emmanuel Ehlers nasceu em Curitiba, filho do pastor Waldemar e Mary Creeper Ehlers.

Como seu pai era missionário, passou a infância e juventude migrando de uma cidade para outra, entre Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, territórios de concentração de assentamento da emigração europeia e difusão do protestantismo no Brasil.

Ainda jovem, o atuante representante comercial casou-se em São Francisco do Sul com Martha Winter Ehlers, de família originária da Polônia. Sua presença no distrito de Jaraguá é identificada a partir do nascimento do filho Günther Ehlers, em 4 de fevereiro de 1928.

Nos anos 30, participava ativamente da vida social, cultural, econômica e política do distrito de Jaraguá, que caminhava rumo a conquista da emancipação.

Emanuel revelou-se um cidadão de diálogo político conservador, respeitador e defensor das lutas do homem do campo e urbano. Na eleição de 1936, Emanuel Ehlers conquistou a preferência dos mais 50% dos eleitores, ou seja, 1578 votos, num universo de 2468 votos computados nas urnas, como candidato a vereança. Feito jamais repetido na história política de Jaraguá do Sul.

 

Ricardo Grünwaldt

Representante: Juulia Rita Sofie Grünwaldt (sobrinha)

 

Ele nasceu em 18 de junho de 1904, no distrito de Jaraguá, filho de Richard e Justina Gonçalves Grünwaldt, vindos da República da Estônia, da cidade de Reval. Ainda menino, foi enviado a Europa para estudar, retornando em 1919, após a primeira Grande Guerra. Em 1926 o jovem regressou ao continente europeu para aprimorar conhecimentos.

Com o surgimento no Brasil do movimento integralista, foi um dos primeiros cidadãos a articular a doutrina política que amparava as famílias remanescentes dos países do Eixo, como Itália e Alemanha. Em 1933 ele lançava as bases do movimento integralista que inseriu Jaraguá no cenário político nacional, reunindo as principais famílias ligadas à igreja Católica, Igreja Evangélica de Confissão no Brasil e Igreja Adventista do 7º Dia.

Em 1936 Grünwald e seus aliados foram as urnas e venceram com uma eleição folgada seus adversários, elegendo prefeito e cinco vereadores. Consolidou, assim, as bases do processo de democratização, obstruindo a trajetória de elitização do controle do poder político da Velha República em Jaraguá.

Mas a vida do jovem militante não era só marcada pela política. No dia 6 de março de 1937 ele casara com Ignês Uber. Porém, a vida matrimonial foi abreviada em 13 de agosto daquele ano. O delegado de polícia sargento Eucário de Almeida o assassinou brutalmente em frente a esposa, grávida, em seu estabelecimento comercial, uma farmácia situada na rua Getúlio Vargas.

Assim, encerrou-se um ciclo da política em Jaraguá, cujo discurso do professor Emílio da Silva, na janela da agremiação partidária na rua Presidente Floriano Peixoto, foi ouvida por mais de cinco mil jaraguaenses, em despedida ao jovem talentoso, farmacêutico, jornalista e presidente da Câmara de Vereadores, cuja lacuna marcou as páginas desta cidade e jamais foram esquecidas.

 

Francisco Mees

Representante: prefeito de Corupá Luiz Carlos Tamanini

Destinado ao acervo Escola Francisco Mees

 

Nascido em 12 de outubro de 1903, no distrito de Águas Mornas, município de Palhoça, região de assentamento da colonização germânica hunsrück. Era filho de Mathias e Christina Schnkechel Mees.

Nessa região agrícola, considerada à época o celeiro de abastecimento de produtos coloniais para a capital Florianópolis, a família Mees educou o filho Francisco, segundo os costumes da época.

Por volta de 1923, muito jovem, porém com uma boa formação escolar veio residir no 4º distrito de Joinville, o de Hansa, atual Corupá. Após dois anos de trabalho como professor, casou-se com Olga Fischer, filha de família tradicional de Hansa Humboldt. Juntos o casal teve 5 filhos.

Como professor, Francisco Mees implantou as primeiras diretrizes do ensino da escola nacional inspirado no movimento de construção da identidade nacional da Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo em 1922. Influenciado pela conjuntura nacional, aderiu ao movimento integralista.

O envolvimento político de Francisco Mees com os princípios da educação nacional facilitou sua aproximação com os agentes políticos do movimento integralista de Jaraguá, levando-o a conquistar uma cadeira na primeira legislatura, em 1936. Em 1937, perdeu o cargo, mas não sua luta em defesa da democracia e da escola nacional.

Além de professor e político, foi alfaiate, músico, cantor, regente e comerciante. Também destacou-se como intendente do então distrito Corupá. Quando Corupá se emancipou, em 1958, Francisco Mees foi nomeado prefeito da cidade, onde seu corpo está sepultado. Faleceu aos 10 de abril de 1961.

 

Carlos Günther Júnior

Representante: Brunhilde Schmöckel (Eugênio Victor Schmöckel)

 

A história política de Carlos Günther Júnior foi ceifada e sepultada  juntamente com o movimento do integralismo. Era um cidadão de origem germânica e foi eleito para a primeira legislatura de 1936. No Arquivo Histórico Municipal Eugênio Victor Schmöckel, e junto a sociedade jaraguaense e corupaense não foram encontrados os dados de identificação desse cidadão e nem os familiares remanescentes. Assim que for identificada a família remanescente será marcada uma solenidade de entrega na sede do Museu Histórico Emílio da Silva.

 

 

 

 

 

 

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