Ironias, ofensas e troca de farpas marcaram o depoimento do empresário Nédio Domingues Vitório ontem à tarde à Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apura possíveis irregularidades na merenda escolar de Jaraguá do Sul. Entre as irregularidades, a comissão relaciona a falta de espaço físico para a empresa funcionar e o uso de merendeiras da administração municipal no preparo das refeições. O prefeito Moacir Bertoldi (PMDB) também foi convocado para depor ontem, mas justificou que estaria em Florianópolis com o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina.
O empresário negou qualquer envolvimento com a empresa SP Alimentação e Serviços, responsável pela merenda escolar no município. Desde o início da CEI, seu nome foi citado em depoimentos de funcionários da Prefeitura. Ele é apontado como lobista da empresa e aparece como intermediário entre a SP e prefeitura jaraguaense na negociação do contrato de terceirização da merenda.
Nervoso, Nédio chamou todos os que já prestaram depoimentos à CEI de mentirosos. Negou inclusive a afirmação da então presidência da Comissão de Licitação sobre a retirada de proposta de licitação da merenda. “Ela é uma mentirosa. Eu não tenho envolvimento algum com merenda”. Quanto à constante aparição nas repartições da Prefeitura de Jaraguá do Sul em 2005, disse que tratava na época de um processo contra a prefeitura. Nédio é proprietário da empresa que prestava serviço ao sistema de estacionamento rotativo no município. “Tive problemas sérios e fechei em Jaraguá. Brigamos na Justiça pelo cancelamento do contrato, por isso minha vinda à Jaraguá.”
O empresário informou ser proprietário de oito empresas em Joinville e nenhuma, segundo disse, teria vínculo com merenda escolar. Ele chegou a se exaltar com o presidente da CEI, vereador Ronaldo Raulino. Negou também outros questionamentos como a locação de veículos utilizados na época da campanha para prefeito, em 2004. Documentos levantados pelo vereador Dieter Janssen e mencionados nos depoimentos apontam que os carros foram alugados na empresa Especial Car, de Joinville, de Vitor Hugo Vitório e Carlos Eduardo Vitório, filhos de Nédio.
Um Gol teria sido utilizado por um secretário da prefeitura e veículo de maior porte na campanha da vice-prefeita Rosemeire Vasel. “De fato eles locaram na empresa do meu filho. Isso é natural”, disse Nédio Domingues em seu depoimento.
O gerente da SP Alimentos, Walter Lessio, disse em entrevista ao A Notícia em setembro que o nome “Nédio Domingues Vitório” lhe era familiar, mas não confirmou sua participação formal na empresa e sim, como parceiro. “Nós temos muitos pessoas terceirizadas. É impossível lembrar de todos”, resumiu. Nédio negou conhecer a afirmação do diretor.
A CEI marcou para a próxima sexta-feira, às 16 horas, o depoimento do prefeito Moacir Bertoldi. Seu depoimento encerra as atividades da comissão, que em seguida encaminhará todo o material reunido desde sua abertura, em junho, à relatora, vereadora Maristela Menel. Caso o relatório seja aprovado, a SP Alimentos pode ter o contrato cancelado e funcionários envolvidos podem ser exonerados.
Cronologia
Setembro de 2005
Processo de licitação aberto para empresas que concorrem a fornecimento de merenda escolar em Jaraguá do Sul.
Empresas concorrentes
SP Alimentação e Serviços (SP); Geraldo Jota, Coan (SP); Rizotolândia Indústria e Comércio de Alimentos (SP); Sistal Alimentação (SP).
2 de setembro de 2005
Assinatura da ordem de serviço para a empresa SP Alimentação por 12 meses.
Setembro de 2006
Contrato renovado por mais um ano.
Julho de 2007
Abertura da Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar possíveis irregulares na merenda escolar.
Agosto de 2007
Contrato renovado por mais dois meses.