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Os 60 anos do Botafogo Futebol Clube, tradicional agremiação da Barra do Rio Cerro, mereceram uma solenidade especial na Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul. A homenagem, realizada na terça-feira, dia 24 de novembro, foi sugerida pelo vereador Jaime Negherbon (PMDB). Por sugestão do clube, a Câmara entregou placas e flores de reconhecimento a dois ex-presidentes – Luiz Zonta e Norberto Guilow.
Jaime aproveitou o momento para convidar o público para uma viagem ao tempo. Mais especificamente ao distante domingo de 1948, quando debaixo da cerejeira em frente ao comércio do senhor Ewaldo Benthien, os amigos Flávio Rubini, Humberto Rubini, Mário Rubini, Constantino Buzarello, Renato Buzarello, Tarcísio Satler, Wolfgang Hruschka, Waldemiro Hruschka e Faustino Girolla fizeram uma vaquinha para comprar uma bola de futebol.
Conforme registros da historiadora Silvia Regina Kita, no livro “Festas de Rei”, mal sabiam eles que deste encontro informal surgia o clube hoje sexagenário. A história também aponta que o nome Botafogo, defendido pelo sócio Tarcísio Satler, foi escolhido de maneira peculiar – uma aposta no vencedor da partida final do torneio Rio-São Paulo, onde o Botafogo ganhou do Palmeiras por 3 a 1. Outro sócio, Flávio Rubini, torcia pelo nome de Palmeiras.
O vereador recordou os jogos improvisados num pequeno campo do Colégio José Duarte Magalhães, onde cada time só podia escalar nove jogadores, o avanço com a compra do terreno da família Satler e a construção de um campo oficial, capacitando-se a disputar campeonatos.
Até que em 20 de novembro de 1949, foi fundado oficialmente o Botafogo Futebol Clube, e em 17 de agosto de 1950, realizada a primeira assembleia, elaborados a primeira ata e os estatutos e eleita a primeira diretoria, presidida por Virgílio Rubini.
Em 1950, a sede própria passou a ser realidade graças à doação de um salão enxaimel da Firma Weege, hoje Malwee Malhas, para realização de bailes e promoções sociais. Mais tarde, o empresário Wolfgang Weege doou um terreno ao clube que em 1952 obteve seu primeiro título, de campeão da Liga Jaraguaense de Desporto. E que em 1953 elegeu sua primeira rainha, Ortência Satler.
A prática de tiro começou em 1954, quando foi adquirida a primeira arma de pressão. E a primeira Festa de Rei aconteceu em 23 de agosto de 1957, quando Alex Kienen levou o título. Desde então, a sociedade adotou a tradicional marcha que cerca a busca e as festas de rei.
Na mesma época, iniciou o movimento para construção da sede social. Com muito envolvimento comunitário e sem superfaturamento, foi possível construir a obra com os 110 sócios contribuindo com um salário mínimo vigente à época. A inauguração ocorreu em 31 de janeiro de 1959.
As mulheres conquistaram seu espaço nas festas de tiro em 1968, quando Elfrida Behling foi eleita a melhor atiradora, estabelecendo-se assim a Festa da Rainha.
Embora ausente por força de outros compromissos, o historiador e professor Ademir Pfiffer, convidado por Jaime para ajudá-lo a resgatar a história do clube, registra que a história do Botafogo começou bem antes de 20 de novembro de 1949, pois muitos dos atletas do Operário, surgido na década de 30, e dez anos depois, o Cruzeiro, fizeram parte da primeira diretoria do Botafogo. Caso do primeiro presidente Virgilio Rubini, ex-atleta do Palestra.
Pfiffer considera que a comunidade da Barra foi marcada por diferentes movimentos esportivos na história do lazer social e cultural. O primeiro na década de 20, marcado pela fundação do time do Palestra Itália, conhecido também como Palestra Serro, ou simplesmente, Palmeiras, para os italianos.
O segundo movimento esportivo aconteceu na década de 30, com influência do movimento integralista, que utilizava o futebol para difusão da ideologia fundamentada em Deus, Pátria e Família. O novo time, o Operário, tem nome associado ao movimento da classe trabalhadora fabril, vinda da sociedade industrial que surgiu com a Era Vargas.
O terceiro movimento esportivo foi marcado pela organização social estatuária, no auge do regime ditatorial de Getúlio Vargas, durante a Segunda Guerra Mundial, nos anos 40.
Desde os anos 30, a Firma Weege participava com outras empresas de um torneio de futebol anual e comercial, com finalidade do convívio harmônico, entre trabalhadores e patrões. Em 12 de dezembro de 1944, Luiz Satler, Alfredo Vasel e Félix Wolf fundaram a Sociedade Esportiva e Recreativa Cruzeiro. No entanto, a ideia não avançou diante do clima de incertezas e angústias da Segunda Guerra Mundial.
E foi em meio ao sonho de uma nova geração de atletas, moldada pela formação social e militar no Rio de Janeiro, antiga Capital do Brasil, no antigo Estado da Guanabara, que nasceu o movimento esportivo que resultou no clube que agora homenageamos. O nome inspirado no clube carioca foi reflexo das experiências da juventude que serviu o Exército nos 40, no Rio, que conheceu grandes estrelas do futebol carioca, que formaram a Seleção Brasileira de 1950.
Esse novo movimento esportivo posterior à Segunda Guerra Mundial também trouxe a novidade do preparo físico do jogador. A mudança provocou rupturas no futebol amador local, que misturava até então a dança e o futebol num clima harmonioso e às vezes conflitante.
Portanto, lembra o historiador Ademir Pfiffer, o Botafogo Futebol Clube nasceu em meio à expansão e o desenvolvimento industrial de Jaraguá do Sul. Com essas mudanças no modelo de desenvolvimento agrário, substituído pelo modelo industrial, nasceu um novo paradigma que se intensificou nos anos 60, quando surgiu no cenário industrial da cidade importantes empresas, como a Malhas Malwee.
E, em meio a essa mudança marcada pela evolução e transformação, veio à baila a Estrela Solitária, que no último sábado reuniu ex-atletas, dirigentes, associados e integrantes de sociedades e clubes convidados em uma confraternização no Parque Malwee.
Ao emocionado presidente Ari Enke, o vereador pediu que procure sempre incentivar e manter a história do clube que foi sete vezes campeão da Primeirona e cinco da Segundona. Compartilho com ele a alegria pela última conquista esportiva, o troféu de campeão aspirante da Copa Pomerode de 2008, e prometeu um time bem mais combativo para 2010.
O presidente do Botafogo Futebol Clube, Ari Enke, lembrou a honra e reiterou seu o compromisso em levar a sociedade para a frente. “São 60 anos, aprendemos muitas coisas, mas ainda temos muito a aprender”.
O ex-presidente da Câmara, ex-vereador e comerciante Luiz Zonta, que também presidiu o Botafogo, além de matar a saudade da tribuna, disse que realmente fica lisonjeado com a menção honrosa e a lembrança de seu nome para a homenagem.
O secretário de Turismo, Cultura e Esporte do município, Ronaldo Raulino, que representava a prefeita Cecília Konell e também presidiu a Câmara, igualmente falou da saudade de voltar à tribuna. Disse que depois da aula de história do vereador Jaime, queria chamar a atenção para outro aspecto – uma reflexão sobre as sociedades.
“Ao longo da história percebemos que um dos traços do ser humano é viver em comunidade. Estas sociedades ajudaram na construção do mundo que vivemos, ditando procedimentos e normas e estimulando o esporte, a educação e a cidadania, o que hoje nos leva a pensar no papel da mesma no futuro”, alertou.
Para o secretário, o espírito do congraçamento está intacto, pelo menos em Jaraguá. “Mudaram os hábitos, mas não a maneira de se reunir. Gostaria de parabenizar a direção do Botafogo e agradecer pelo que fez e representa, e deixo aqui meu convite para que pensem no futuro das sociedades, para que não percam seu verdadeiro espírito”, finalizou.
Nas fotos, o presidente da Câmara Jean Leutprecht com o presidente do Botafogo, Ari Enke, e o vereador autor da homenagem, Jaime Negherbon. E os vereadores Lorival Demathê e Francisco Alves com o ex-vereador e ex-presidente do clube, Luiz Zonta.